domingo, 18 de setembro de 2011
domingo, 4 de setembro de 2011
Passagens
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio à roda de seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Os antigos diziam que do centro de uma árvore se chegava a qualquer lugar. Sem perceber que transportavam essa sabedoria, as crianças desenhavam suas famílias e esconderijos no tronco das árvores mais altas, atraídas pela luz. Das mãos das crianças, assim, surgiam as primeiras árvores genealógicas para dizer do enraizamento humano. Na árvore genealógica, estavam o rumo de tudo e os segredos também. Mas, foram os homens de vista baixa os primeiros a desistir do caminho ascensional das árvores. Desenraizaram os pés da terra, ferindo e consumindo baobás, oliveiras, carvalhos ao fogo. Usaram a luz contra a luz. Peregrinaram sem gravidade, juntamente com seus filhos. Às vezes, algumas crianças sentiam uma nostalgia imensa. O tempo passava por elas como um calafrio. Quiseram ler o que fora apagado dos olhos. Sem perceber, procuraram as inscrições dos ancestrais nos distantes troncos que resistiam. Reconheciam a profunda tristeza das árvores como sua. Sustentavam luminescências contra signos mortos.
.
Colagem e Palavras
Luciana Marinho
Assinar:
Postagens (Atom)