domingo, 29 de abril de 2012

errância

meus pés começam a ver a terra
e eu tenho fome daquela estrela
que de mim é outra vida.
.
luciana marinho


não me deixe rezar por proteção contra os
perigos, mas pelo destemor em enfrentá-los.
não me deixe implorar pelo alívio da dor,
mas pela coragem de vencê-la.
não me deixe procurar aliados na batalha
da vida, mas a minha própria força.
não me deixe suplicar com temor aflito
para ser salvo, mas esperar paciência para
merecer a liberdade.
não me permita ser covarde, sentindo sua
clemência apenas no meu êxito, mas me deixe
sentir a força de sua mão quando eu cair.

rabindranath tagore


fotografia luciana marinho

sexta-feira, 13 de abril de 2012

"Alma Crescendo"


Era uma força oceânica nas manhãs tão cedo, pensou, tocando o olho d’água. As sementes estavam exaustas. Sentiu suor entre os dedos. Pensou em seu medo de não ser abrigo àquela hora em que tudo pode estar por arrebentar. Desmedia o esforço para levar as sementes de um canto a outro dos continentes, habitando o mistério que encadeia os mundos vividos. Um passo em falso dentro das estações poderia preservar o inverno no peito das papoulas. O inverno fazia-o sentar à beira do tempo, prestes a cair no regaço das esferas. Porque o inverno traz um sentimento de orfandade, uma brancura que respinga na íris, um respirar o queimor do frio... As asas se desfazem na retenção do pulmão e renascem no gesto de sobreviver com a terra. Sobreviver com a terra.



fotografias e palavras   luciana marinho

segunda-feira, 2 de abril de 2012

desencanto II


não é o morrer
são pássaros fechando o céu
feridos em sua casa.
são as mãos desaparecidas no livro
a folha de oliveira caindo da página.
não é o morrer
é a árvore dentro do corpo
enraizada fora do mundo.


fotografia  joyce tenneson
palavras   luciana marinho

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