quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

do que se vive




a mão dela abriu o orvalho
para que a água descesse uma petúnia nos olhos.
de algum jeito todos envelheceram em suas sombras
foram desaparecendo na morte 
sussurrada à borda dos poços
enquanto ela restava com seu vestido de ventre claro 
e os olhos estendidos ao nevoeiro.
embrulhou suas idades na voz do avô:
"morre-se do que se vive".
e foi desafogando os cardumes do esquecimento.




luciana marinho
  fotografias e palavras

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

triz




o cálice atravessado no ranço da garganta.
t
orpor ardente pesando 60 quilogramas
em 1 metro e 64 centímetros de retração.

ganchos repuxam o coração,
ferem toda vida aérea
e baixam, sobre as cabeças, 
coroas
de escura castidade.
crianças exalam o luto de suas águas,

trincam gritos nos espelhos.
nada mais será legível nas nervuras da mão
nos mapas astrológicos

nas línguas mortas.
serão estranhas e nostálgicas

as cavidades do coração.


fotografia   francesca woodman
palavras   luciana marinho

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